Embora quando se pense em Arroio dos Ratos a primeira associação que se faça seja com o rato urbano, estigmatizado enquanto um portador de doenças, o rato de arroio dos ratos é na realidade o ratão-do-banhado, da família dos castorídeos, também conhecido como nútria.

Segundo consta no site da National Geographic, os ratões-do-banhado são grandes roedores de patas palmeadas, mais ágeis na água do que em terra. Esses roedores, que parecem com uma capivara com pés de pato e rabo de rato, viviam apenas no sul da América do Sul, quando eram caçados para terem sua pele, que era contrabandeada para o Uruguai, utilizada no ramo da chapelaria. Pelo mesmo motivo, eles foram domesticados e transportados para regiões em todo o mundo. Em muitos locais, como no Canadá e em mais de 12 estados dos Estados Unidos, ratões-do-banhado fugitivos das fazendas de peles  rapidamente estabeleceram grandes populações selvagens em novos habitats.

Os ratões-do-banhado vivem em tocas ou ninhos, mas nunca longe da água. São vigorosos nadadores e podem permanecer submersos por até cinco minutos.

A sua existência na região carbonífera chama a nossa atenção para uma característica ambiental pouco lembrada da região, o fato de possuir mais água do que muitas vezes a sua paisagem - associada a mineração, a monocultura e a criação de gado - denuncia. A água se faz presente na região, também conhecida por bacia do Jacuí, não somente em função da existência deste rio tão importante mas também por ela ser composta por uma série de arroios, e banhados, como o próprio Arroio dos Ratos ou o Arroio dos Cachorros.

Quem frequenta esses arroios? Sua água é própria para banho? Seriam esses possíveis espaços de lazer subutilizados? Quais peixes vivem neles? Quais outras espécies dependem desta água para se desenvolver?

Em 1995, o então prefeito de Arroio dos Ratos Jaury Gonzales da Cunha promulgou uma lei que pretendia tornar o ratão-do-banhado o símbolo oficial do município de Ratos. Segundo constava em seu artigo número 2, o ratão deveria ser exibido nos materiais de divulgação do município, o que deveria reforçar sua importância e promover sua imagem que circularia por meio de fotografias e desenhos. Ainda, conforme consta no artigo número 3, nas áreas de recreação e lazer, bem como em parques, museus e pórticos, deveriam estar expostos materiais que reforçassem sua relevância histórica, bem como seu potêncial econômico. Os estudantes também deveriam aprender sobre a importância da sua preservação silvestre, em cativeiro e também sobre a sua viabilidade econômica.

Aparentemente, “a lei não pegou”, já que em nossa circulação por Arroio dos Ratos não ouvimos qualquer menção ao animal. Embora atualmente, e felizmente, sua caça seja proibida, o que impede o seu potencial econômico no que se refere ao uso de sua pele, fazemos coro a promoção do ratão-do-banhado enquanto um símbolo da cidade. Bem como a promoção da sua relação com as águas e com outras espécies de que dependem dele e de quem ele depende.

– O desenho da ilustração é de R. von. Ihering. *Dicionário dos animais*. São Paulo, 1940, e foi retirado do Bestiário que compõe o livro *O cru e o cozido: mitológicas I*. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. Rio de Janeiro: Zahar. Trabalho original publicado em 1964. 2021.